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terça-feira, 02 março 2021 08:14

A mafurra: do sabor aos “mitos” do sono

Com sabor único e inconfundível, a mafurra é um frunto da planta  Trichilia emetica ou simplesmente mafurreira, que pode ser  encontradaum pouco por todo país, sobretudo na zona sul, onde é maisconsumida. A mafurra apresenta duas colorações características, vermelha e branca, ou mistura das duas. A sua utilidade é variada. Para além de  ser consumida logo quando atinge o processo de maturação, ela pode ser conservada para servir de matéria-prima para a produção do óleo de mafura (munhazi ou ntona) e xibehe, dois alimentos que representam a marca gastronómica do povo Chope. As suas sementes podem ser usadas para produzir sabão. A sua época, desde o florescimento à maturação estende-se de Dezembro à Maço.

Neid Dumela é natural e residente em Inhambane, consome mafura há pouco tempo, desde o início da sua gestação. Segundo ela, não consumia a mafurra porque “achava irritante o momento de chupar”.

Para preparar a mafurra Neid explica que primeiro descasca, lava e mergulha em água morna para amolecer. Se não estiver com pressa, mergulha na água fria e deixa exposta ao sol, se for no período de dia. O processo de amolecimento pode levar até 15 minutos. Para saber se a mafura já está pronta, observa-se a cor da mesma. Em seu estado normal ela apresenta-se de cor vermelha ou branca, mas quando pronta a consumir, ela apresenta-se de cor amarela. “Depois de amadurecer, tiro a mafurra da água e coloco nela água gelada com açúcar ou sumo de ananás”, refere Neid. Posto isto, amassa-se até ficar com aspecto de yogurte. É das suas maneiras preferidas de chupar. Acrescenta ainda que prefere mafura branca porque é das mais saborosas.

Catarina Nhaduate é também natural e residente em Inhambane. Contrariamente, ela diz que prefere mafura vermelha pois “é a que mais tenho acesso”. Tucha, como é carinhosamente tratada, refere que prefere chupar mafura aos poucos, colocando pequenas quantidades na boca sem passar pelo processo de amolecimento na água, pois elas amolecem na boca. “Quando chupo mafura colocada na água com açúcar, duas ou três colheres me são suficientes. Fico satisfeita mais rapidamente”, acrescenta Tucha. Enquanto, de outro modo, é capaz de chupar até um copo inteiro.

A mafurra vem influenciando a gastronomia de outras regiões do país, por exemplo, a sua mistura com batata-doce, uma técnica comum na cidade e província de Maputo.Há quem considere a mafura um sonífero. Esta é uma opinião partilhada por Neid pois, segundo ela, quando chupa mafurra dorme bem. Nos dias que não chupa mafurra, às vezes tem insónia, sobretudo neste período em gestação. Por isso a sua hora preferida para chupar a mafurra é de noite, porque depois consegue dormir.

Não se conhecem estudos científicos sobre a composição da mafurra, no entanto, sabe-se que relação de um alimento com o sono é explicada por algo que se chama triptófano, um aminoácido que é o precursor de serotonina e da melatonina, os químicos indutores de sono no cérebro. O triptófano está presente em pequenas quantidades em quase todos os alimentos proteicos e em quantidades mais altas em iogurte, leite, aveia, banana, tâmaras, frango, ovo e milho.

 

Escrito por Vanila Amadeu para Tsevele

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