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terça-feira, 24 outubro 2023 14:20

Dinyede ou caracol (Achatina fulica): uma marca da gastronomia dos makondes de Cabo Delgado

dinyede dinyede Nágel Mungói

Cabo Delgado é um mosáico gastronómico que impressiona quem visita a província, tanto nacionais quanto internacionais. Das suas iguarias únicas, encontramos o dinhede ou dinyede, nome que se dá a um prato tradicional típico da culinária makonde, grupo etno-linguístico daquela província.

Essencialmente, a base do dinyede é o caracol que habita nos arbustos do Planalto de Mueda, onde o prato é originário. Quem não é natural da região de Mueda, pasmo fica quando, pela primeira vez, ouve que caracol serve como alimento. Mas não se trata de qualquer caracol, e sim do cientificamente conhecido como Achatina fulica, espécie rara deste animal.

“Este caracol não é aquele comum. É geralmente encontrado nos ramos das árvores do planalto, mas também pode estar enterrado nas raízes das árvores. Não circula na superfície como os caracóis  populares, que são venenosos e o seu consumo pode causar doenças”, disse Preciosa Romão, de 43 anos de idade, natural de Cabo Delgado.

Em conversa com Preciosa ficámos a saber de que existem caçadores especialistas na identificação e recolha dos moluscos para fazer o dinyede. Por não ser qualquer caracol adequado para o consumo, a fonte reitera a importância de confeccionar e consumir aqueles oferecidos pelos caçadores especialistas, pois há espécies venenosas.

A entrevistada, que prepara o prato desde 2016 para feiras gastronómicas em Cabo Delgado e no resto do país, acrescentou que dinyede é sobejamente conhecido e admirado localmente. Os não nativos começam por estranhar a iguaria, mas apreciam assim que a degustam.

Segundo a fonte, o dinyede pode ser frito, preparado em forma de espectada, água e sal ou como guisado, tendo tomate, cebola e alho como alguns dos ingredientes. Pode ser acompanhado com arroz ou xima, sendo que os nativos preferem com xima de mandioca seca. 

Preparo de especto de dinyede

A forma mais corrente de confeccionar o dinyede entre os nativos do Planalto de Mueda segue o processo seguinte:

  • Retira-se a concha do molusco e limpa-se a carne do caracol;
  • Ferve-se a carne só com água durante 20-30 minutos;
  • Salga-se a carne e é posta a cozer – enquanto isso deve-se mexer o conteúdo;
  • Cozida, tempera-se com alho pilado e limão, óleo e sal, principalmente.
  • Dependendo da preferência, pode-se acrescentar diferentes especiarias. Dona Preciosa Romão afirma que, geralmente, na sua comunidade acrescenta-se o tempero Dimene ou farinha de amendoim, para dar um gosto único ao prato.

Depois dos passos acima, faz-se a espectada de dinyede. No caso de guisado, adicionam-se outros ingredientes e cozinha-se do mesmo modo que carnes como a bovina ou o frango. Contudo, Preciosa Romão abre espaço para inovação.

“Esta é a nossa forma de preparar, mas cada um pode fazer à sua maneira, e acompanhar com qualquer outro alimento. Nada é proibido”, disse, aconselhando, mais uma vez, a todos para que adquiram os moluscos dos caçadores especialistas, da mesma forma que, ao preparar, atentem às condições de higiene.

Escrito por Nágel Mungói para Tsevele

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