Essencialmente, a base do dinyede é o caracol que habita nos arbustos do Planalto de Mueda, onde o prato é originário. Quem não é natural da região de Mueda, pasmo fica quando, pela primeira vez, ouve que caracol serve como alimento. Mas não se trata de qualquer caracol, e sim do cientificamente conhecido como Achatina fulica, espécie rara deste animal.
“Este caracol não é aquele comum. É geralmente encontrado nos ramos das árvores do planalto, mas também pode estar enterrado nas raízes das árvores. Não circula na superfície como os caracóis populares, que são venenosos e o seu consumo pode causar doenças”, disse Preciosa Romão, de 43 anos de idade, natural de Cabo Delgado.
Em conversa com Preciosa ficámos a saber de que existem caçadores especialistas na identificação e recolha dos moluscos para fazer o dinyede. Por não ser qualquer caracol adequado para o consumo, a fonte reitera a importância de confeccionar e consumir aqueles oferecidos pelos caçadores especialistas, pois há espécies venenosas.
A entrevistada, que prepara o prato desde 2016 para feiras gastronómicas em Cabo Delgado e no resto do país, acrescentou que dinyede é sobejamente conhecido e admirado localmente. Os não nativos começam por estranhar a iguaria, mas apreciam assim que a degustam.
Segundo a fonte, o dinyede pode ser frito, preparado em forma de espectada, água e sal ou como guisado, tendo tomate, cebola e alho como alguns dos ingredientes. Pode ser acompanhado com arroz ou xima, sendo que os nativos preferem com xima de mandioca seca.
Preparo de especto de dinyede
A forma mais corrente de confeccionar o dinyede entre os nativos do Planalto de Mueda segue o processo seguinte:
- Retira-se a concha do molusco e limpa-se a carne do caracol;
- Ferve-se a carne só com água durante 20-30 minutos;
- Salga-se a carne e é posta a cozer – enquanto isso deve-se mexer o conteúdo;
- Cozida, tempera-se com alho pilado e limão, óleo e sal, principalmente.
- Dependendo da preferência, pode-se acrescentar diferentes especiarias. Dona Preciosa Romão afirma que, geralmente, na sua comunidade acrescenta-se o tempero Dimene ou farinha de amendoim, para dar um gosto único ao prato.
Depois dos passos acima, faz-se a espectada de dinyede. No caso de guisado, adicionam-se outros ingredientes e cozinha-se do mesmo modo que carnes como a bovina ou o frango. Contudo, Preciosa Romão abre espaço para inovação.
“Esta é a nossa forma de preparar, mas cada um pode fazer à sua maneira, e acompanhar com qualquer outro alimento. Nada é proibido”, disse, aconselhando, mais uma vez, a todos para que adquiram os moluscos dos caçadores especialistas, da mesma forma que, ao preparar, atentem às condições de higiene.
Escrito por Nágel Mungói para Tsevele