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terça-feira, 28 novembro 2023 15:00

Mapalu (ostras): uma iguaria oferecida pelos Deuses do mar

Palu (singular), Mapalu (plural), é um tipo de ostra marinha habitante de zonas de coral. Diferente de outras ostras localizadas ao longo da costa de Moçambique, esta ocorre no intervalo entre a época fria e a época quente.

Mapalu são cobertas por uma carapaça rígida, dentro da qual se desenvolvem, e vivem em comunidade, entrelaçadas uma na outra através de um músculo em Citswa chamado “misisi” (cabelo), devido a sua semelhança com o cabelo.

Palu é uma das mais importantes identidades dos povos de Moçambique, quando se fala dos pratos típicos da gastronomia local, principalmente nas comunidades ao longo da costa, caso da província de Inhambane. Chegado o momento, a população neste ponto do país desdobra-se em campanha de captura e processamento artesanal do molusco, uma actividade feita por mulheres, em período de maré baixa.

O processamento artesanal primário começa com a retirada de palu da concha, uma tarefa denominada ku hala (ainda em Citswa), após o que seguem dois caminhos, a secagem (ku rimba) e a cozedura (ku bika).

A secagem consiste na desidratação de mapalu, processo efectuado com auxílio de um tapete feito de paus finos, por cima do qual se colocam as ostras sobre um fogo ligeiro. Enquanto no fogo, mexem-se as ostras devagar até que desidratem e, finalmente, são postas ao sol para completar a secagem. A segunda técnica de processamento artesanal de palu, a cozedura, visa extrair o “dhongolo”, um líquido pegajoso e espumante com que a ostra sai da concha.

A ostra seca pode manter-se conservada durante um ano, permitindo a comercialização dentro do país ou exportação para outros mercados da região e do mundo, particularmente na Ásia.

Dizer que as duas modalidades de processamento acima, apesar de viabilizar o pronto consumo sem a necessidade de confecção em prato especial, não se tratam da confecção propriamente dita de mapalu, mas, sim, uma espécie de  cuidados primários.

Assim sendo, com palu, isoladamente ou associada a outros condimentos, pode-se preparar uma variedade de pratos típicos de Moçambique. De forma associada, e servindo como tempero, faz uma saborosa simbiose com verduras tais como folhas de abóbora, folhas de feijoeiro, matapa (folhas de mandioqueira), etc. Um outro prato especial é o caril de amendoim de palu. Contudo, para não correr o risco de provocar irritações estomacais, é imperioso retirar os ligamentos semelhantes ao cabelo humano que acompanham a ostra.

Uma doação divina

Palu possui a particularidade de abundar em “tempo de fome”. Segundo se acredita, a sua ocorrência em grande escala é uma espécie de doação vinda dos deuses do mar para aliviar as pessoas da escassez de alimentos em época de estiagem e de fraca produção agrícola. Por isso, não pode coincidir um bom ano agrícola com um bom ano de captura de mapalu.

Palu tem um grande valor comercial e constitui, para muitos, uma alternativa ao peixe, lagosta ou lula, consideradas espécies caras. Há, no entanto, outra crença de que o consumo de ostras/mapalu frescas é ideal e funciona para aliviar “babalaza” ou ressaca.

Escrito por Amadeu Quehá para Tsevele

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