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terça-feira, 14 novembro 2023 14:25

Muheya & mwila: os intermediários da comunicação com o Além

Muheya & mwila Muheya & mwila José Alácio

Muheya e mwila são dois instrumentos que carregam muitos significados na arena da tradição, sobretudo na arte da promoção da magia. A sua origem é vinculada aos curandeiros e feiticeiros, que deles ficaram a saber por meio de uma revelação espiritual. São ferramentas sagradas que ninguém pode tocar sem a autorização dos proprietários ou sem ter tido uma comunicação espiritual.

O curandeiro Makala, da província de Nampula, que usa o muheya no seu trabalho há muitos anos, explicou-nos que o utensílio é feito a partir de um legume chamado masuku, em português conhecido por massala. Não é cultivado para o fim específico de fazer muheya, mas o legume encontra-se à venda nos mercados, seco. Já o segundo objecto, mwila, que em emakhuwa significa cauda, é feito de cauda de animal, nomeadamente impala, zebra ou boi.

O senhor Makala referiu que o fabrico de muheya, em particular, é muito simples, precisando apenas de perfurar uma das extremidades do fruto seco, introduzir umas pedrinhas nele e fixar uma estaca de madeira ao furo. O muheya só é feito por um mágico espiritual e não é comercializado em massa, e por isso mesmo só pode ser adquirido com um outro mágico, curandeiro ou feiticeiro. 

O instrumento produz um som ao ser agitado, e acompanha as canções entoadas pela classe de profissionais, geralmente quando fazem adivinhas. Outros momentos de utilização compreendem o acto de tratamento de um doente e algumas cerimónias tradicionais que envolvem assuntos espirituais, como madjini, eyotho e ihoka.

Segundo a fonte, o som criado pelo muheya invoca os espíritos, permitindo assim a fácil resolução do problema em causa, seja ele uma adivinha ou uma doença. O artefacto acompanha canções espirituais que, por vezes, são agradáveis e dançantes.

O senhor Makala disse que certos curandeiros (os ditos não espirituais) são isentos do uso de muheya, mas os que adquirem o poder através de espíritos têm a obrigação de o usar. Por norma, têm sido dois muheyas, um para cada mão. 

No entanto, algo estranho sobre este objecto é que, cada mágico o emprega em função de suas intenções, podendo ser para o bem (melhorar a vida das pessoas) ou para o mal (destruir a vida dos outros). Os ditos curandeiros-feiticeiros fazem parte do segundo grupo. Outrossim, a fabricação do muheya determina o seu propósito.

Os curandeiros preparam-no tal como explicado anteriormente, ao passo que os feiticeiros, em vez de pedrinhas, colocam dentro do masuku/massalo substâncias como drogas, cabelo, mão ou dedos humanos, etc.

Esses feiticeiros, por exemplo, num verdadeiro ritual de feitiçaria, depois que identificam o alvo ao longo do dia, na calada da noite dirigem-se à sua residência, vestidos de farrapos (mukotta), e cantam e dançam em volta da casa ao ritmo do muheya, enquanto seguram o mwila noutra mão.

Escrito por José Alácio para Tsevele

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